Projeto Carbono


Segue abaixo todos que de alguma forma participam do projeto.


Comunidade Cedro


O Quilombo do Cedro teve o seu processo de formação histórico no intenso movimento migratório que ocorreu para o estado de Goiás em meados do século XIX. Seus fundadores chegaram à região na condição de escravos, trazidos pelos primeiros moradores do município de Mineiros. Entre estes escravos, encontrava-se Francisco Antonio de Moraes, conhecido como “Chico Moleque”. Ainda na condição de escravo, em 25 de abril de 1885, Chico Moleque comprou a posse de 30 mil alqueires de terra da Fazenda Flores do Rio Verde, onde está situada a comunidade do Cedro. A terra foi dividida, geração após geração entre as famílias PIO e MORAES, até atualmente existirem apenas pequenas propriedades.

Ao longo de sua formação, a comunidade do Cedro sempre esteve inserida na economia local, pois os cedrinos, como são conhecidos, trabalhavam para os fazendeiros da região como boiadeiros, vaqueiros ou meeiros. A comunidade dedicava parte de sua produção à subsistência e parte à comercialização, permitindo certa autonomia do sistema patronal.

A partir da década de 1970 com a chegada da monocultura da soja e do arroz a comunidade sofreu mudanças na sua forma de viver, movido pelas mudanças tecnológicas, redução da pecuária e aumento de importância da área urbana. Como conseqüência os cedrinos diminuíram sensivelmente a produção em suas terras, tornando-se muito mais dependentes dos produtos da cidade. Pelo menos um em cada três adultos trabalha na cidade atualmente

Neste processo a cidade avançou sobre as terras da comunidade, e hoje, elas estão distante apenas cinco quilômetros da área urbana, o que intensificou a venda de lotes e a saída da população jovem do quilombo. A dependência da cidade provocou acentuado empobrecimento da comunidade que, no momento atual, ainda mantém atividades nas suas terras: cultivam seus roçados e quintais com produtos hortifrutigranjeiros, produzem doces e vendem parte desta produção.

Em 1998, com recurso do Programa de Pequenos Projetos – PPP foi construído o Centro de Plantas Medicinais na comunidade com o objetivo de ampliar e aperfeiçoar a antiga tradição de produzir remédios a partir de espécies medicinais do Cerrado. Ao longo do tempo o Cedro acabou ilhado por propriedades maiores de agricultura, diminuindo os pontos de extrativismo e coletas de espécies utilizadas pelos cedrinos no Centro de Plantas Medicinais.

No quilombo existe uma escola, com dois professores, que funciona no período vespertino para 1ª à 4ª séries e no período noturno com o programa de alfabetização de jovens e adultos.

Os cedrinos praticam pesca no Rio Verde para consumo próprio, além de cultivarem para subsistência o milho, o arroz, a mandioca, o amendoim, a cana de açúcar, hortaliças. Em 2006, com apoio da Oréades foi construído um viveiro na Comunidade com capacidade de produzir 13 mil mudas. Já foram comercializados alguns lotes produzidos, no entanto, a demanda ainda é pequena.

Quanto à situação fundiária, as terras deixadas foram escrituradas por Chico Moleque para seus descendentes, que foram divididas ao longo de gerações em glebas que variam de 7 a ½ hectares por família. Ao todo são 78 famílias que moram na comunidade, sendo que 48 delas são descendentes do Chico moleque, as outras que não são cedrinas adquiriram suas terras dos descendentes diretos de Chico Moleque.

A partir de metodologias participativas e conversas com as pessoas da comunidade pode-se perceber que o grande desafio é manter a comunidade unida em torno de sua história e costumes para que busquem juntos, caminhos para a sua sustentabilidade enquanto comunidade tradicional. Acredita-se que somente o trabalho coletivo ajudará resolver problemas ambientais que afetam a comunidade como a diminuição das espécies medicinais utilizada na medicina popular provocada pelo desmatamento ou manejo incorreto das espécies. Além dos problemas sociais como a necessidade de buscar trabalho fora da Comunidade, já que a renda de cada família não garante o seu sustento. Também são consideradas dificuldades a questão da segurança, do lixo, pois não há coleta e a falta de transporte.

O primeiro trabalho desenvolvido pela Oréades foi em 2003, onde foi realizado na Comunidade o I Seminário sobre “Uso Sustentável de Reservas do Cerrado”. Em 2004, a Oréades e Comunidade do Cedro aprovaram com o Fundo Nacional do Meio Ambiente, o Projeto Vida Verde ao Cedro, através do qual a comunidade tem buscado definir o seu ponto forte, ou seja, quais as atividades querem investir mais para garantir a sua segurança alimentar. Através do Projeto Vida Verde ao Cedro foram realizadas oficinas de artesanato com argila que tem despertado o interesse e unido o grupo para a produção de bijuterias, máscaras retratando o povo cedrino, além de trabalhos com fibras.

O Projeto de Carbono no Corredor de Biodiversidade Emas – Taquari, inclui 10 famílias da comunidade do Cedro que esperam garantir um futuro onde a produção comunitária, seja ela remédios, artesanato,sementes, mudas ou doces, possa trazer autonomia e qualidade de vida para a comunidade. Essas famílias serão beneficiadas com capacitações e com a venda de sementes e mudas de nativas do Cerrado.

Diagnóstico Participativo do Quilombo do Cedro

Viveiro da comunidade (esquerda) e Farmácia de manipulação de remédios e produtos naturais da Comunidade do Cedro (direita)