Projeto Carbono


Segue abaixo todos que de alguma forma participam do projeto.


Atividades


Monitorar a biodiversidade, ou seja, acompanhar as mudanças na ocorrência e composição de espécies sempre foi uma preocupação do ser humano, mesmo em tempos remotos, quando a chegada ou partida de aves migratórias em regiões temperadas era usada como um indicador de mudanças nas estações do ano (Furness et al. 1993). Nos dias atuais, a monitoração tem sido mais utilizada como procedimento básico para avaliar o impacto das atividades humanas sobre as espécies da fauna e flora.

A necessidade de acompanhar de maneira sistemática as respostas das espécies frente às alterações ambientais passou a ser vital nos dias atuais, em especial quando a maior parte das alterações ambientais é provocada pelo ser humano. O programa de Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas indica, por exemplo, que cada pais deve estabelecer metas para reduzir significativamente a perda de biodiversidade. Dentre os indicadores sugeridos  estão avaliações de alterações na cobertura de ecossistemas nativos, tendências de alteração na abundância e distribuição de espécies selecionadas e a alteração do status de conservação de espécies ameaçadas. Apesar de não se tratar de um programa sistemático de monitoração desses parâmetros, programas locais que adotem alguns dos parâmetros sugeridos podem contribuir  com a iniciativa global.

Estudos que objetivam monitorar alterações na biodiversidade frequentemente adotam parâmetros populacionais, às vezes de uma única espécie (Golberg and Schwalbe 2004; Lindermayer 1999), e composição de taxocenoses com indicadores de eventuais tendências de mudanças ao longo do tempo (Gaston and McArdle 1994). Nos Estados Unidos, estudos de longa duração desenvolvidos desde os anos 60 no Parque Nacional de Grand Teton (estado de Wyoming) utilizaram como indicadores a abundância de aves e composição de espécies para avaliar as alterações na avifauna ao longo do tempo (Cody 1996). 

Programas de monitoração da biodiversidade conduzidos em vários países possuem basicamente dois propósitos: monitorar populações de espécies para obter a base técnica para a tomada de decisão acerca da conservação das mesmas ou avaliar como as mudanças ambientais afetam as espécies da fauna e da flora. (Greenwood et al. 1993).  Alguns programas podem também ser específicos para avaliar a contaminação biológica de comunidades de plantas ou animais, nos casos onde espécies invasoras representam a ameaça à integridade das comunidades (Grice 2004). Na maior parte dos casos, espécies da fauna e flora são usadas como indicadores das ações necessárias para o manejo das áreas nativas, sendo importante separar as causas naturais de alteração natural daquelas provocadas pelo ser humano. Desta forma, é necessário determinar uma conexão entre variações em parâmetros populacionais ou parâmetros comunitários e as causas de tais variações.

Desde os anos 60 sabe-se que a complexidade da vegetação é um fator que influencia a composição e diversidade das espécies (August 1982; MacArthur 1964). Esses trabalhos pioneiros sugerem que há uma relação direta entre uma maior estruturação da vegetação com uma maior riqueza de espécies, embora revisões mais modernas tenham sugerido que a estruturação de uma comunidade (identificação da dominância de espécies e composição da taxocenose) seja mais dependente de fatores regionais do que locais (Ricklefs 2008). Desta forma, estudos voltados para o entendimento das mudanças na composição das espécies em uma dada localidade devem envolver tanto aspectos locais quanto regionais.

Se o aumento da complexidade estrutural proporciona a existência de mais nichos ecológicos a serem ocupados pelas espécies, então áreas degradadas que sejam manejadas para a reabilitação ambiental ou para o sequestro de carbono podem ser monitoradas para avaliar a dinâmica de colonização das espécies da fauna e flora ao longo do tempo. Caso  parâmetros básicos como a riqueza e a abundância de indivíduos das áreas manejadas se aproximem daqueles obtidos em áreas conservadas, então pode-se concluir que as ações de manejo estão logrando êxito. No caso específico de programas de sequestro de carbono que tenham como objetivo agregar a conservação da biodiversidade local, além da simples acumulação de biomassa, o aumento na riqueza e estruturação da comunidades local pode ser visto também como um indicador de sucesso.

Salienta-se, entretanto, que a resposta da fauna às mudanças na estrutura da vegetação podem não ser imediatas ou lineares. Embora não existam muitos estudos específicos para testar essa condição em regiões tropicais, como o Cerrado brasileiro, há indícios que espécies da fauna apresentam uma defasagem (time-lag) entre as alterações ambientais e suas respostas. Estudos conduzidos na porção oeste do estado de São Paulo sugerem que, pelo menos para a estruturação da paisagem, as espécies de aves presentes respondem mais à estrutura observada há 25 anos do que à da atualidade (Metzger et al. 2009). Isso não quer dizer que os estudos voltados para a monitoração ambiental não devam ser realizados, mas é um alerta para que a avaliação dos resultados desejados sejam vistos com cautela, pois algumas inferências só podem ser extraídas no médio e longo.

A recuperação de áreas degradadas possui vários propósitos na atualidade (contenção de erosões, cumprimento da legislação ambiental, proteção de nascentes, criação de corredores ecológicos, dentre outros). Um grande potencial de recuperação de áreas degradadas está associado com a conjunção de aspectos relacionados às mudanças climáticas (sequestro de carbono), biodiversidade (aumento da proteção local de espécies), cumprimento da legislação (solução da inadimplência legal) e aumento do bem-estar social. Nesse sentido, a proposta de programa de monitoração da biodiversidade, ora apresentada, tem como objetivo avaliar o sucesso de manejo ambiental em áreas reservadas para o sequestro de carbono via recuperação de áreas degradadas.